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Um silêncio grande veio sobre mim
como um espírito ou algo assim que desce.
O que falo, quando falo, me custa,
estabeleço prejuízos irreparáveis,
gasto fortuna que não tenho.
Não há sabedoria, nem escuridão, só mudez.
Um anúncio me foi confiado,
mas recolho o impulso que me formaria a voz.
Guardo o ar que respiro para o que sinto,
algo como amar por amar e rir por viver.
Fez-me o silêncio um estranho,
mas me acostumo assim, outro feito de mim.
Fico fora de um eixo, alterado, crucificado sem dor,
grudado em lentidão nos instantes,
hipnotizado pelas insignificâncias do cotidiano.
Ao mesmo tempo vôo, pássaro ligeiro,
asas com penas levíssimas de prata,
para talvez pousar sobre o girassol de um dia diferente.
Me deixe assim, em silêncio, não me tente animar;
há uma possibilidade de não ser tristeza.
Dauri Batisti