sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Ser

.
O ser humano: um monte de inconstâncias
Um quê de anjo caído, com asas tortas
Uma ânsia de viver em vidas mortas
O desejo de ser o que não se é
.
O ser humano: um tanto de felicidade perene
Um vício de estar no que não condiz
Um prazer de caminhar entre contradições
O pensar, o querer, mas não diz
.
O ser humano: Perfeito entre os animais
Um lacaio de Deus
Um cativo de sua sublimidade
O ser incapaz de amar
Arianna Machado

Sonhos

.
Pus os meus sonhos en tuas mãos...
Em mil pensamentos fui até você,
Com olhos brilhando te encontrei..
Mas não era eu quem procuravas...
Na minha sensíbilidade deixou de perceber..
A lágrima que caía por dentro de mim..
As mesmas que estão presentes,
E você sozinho e indeciso não saberia responder..
Pois paixão jamais se esquece..
E o amor com o tempo desfalece nas mãos que tu enterrastes!
Marinês Martins

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Pedaços de Você

.
E tudo tem sido assim:
Pedaços de voce,
Pedaços de mim...
.
E tudo tem sido tão triste,
Vozes que me dizem:
Não se arrisque...
.
E tudo tem sido tão profundo...
Num mar de águas rasas:
Acabou-se o mundo.
Mirabelle

Sentido

.
Qual o sentido da vida?
Dor amor.
Um dia alguns homens que não conheci,
Sentiram dor por pregar amor ao próximo.
Ao contrario conheci vários outros
Que propagaram a dor e minaram o amor em prol de si.
Qual o sentido da vida?
A guerra gerada pelo seu capitalismo medíocre.
Ou os homens gafanhotos,
Que destroem tudo por onde passam
Ser um individuo que você viu na tv
Ou ser você mesmo?
Ser tomado pelo artificial
Ou fazer parte do natural?
Qual o sentido da vida?
Fazer um monte de perguntas
Ou tentar compreender as respostas.
Dá vida o sentido é viver intensamente,
E o mais importante é não esquecer
Que para cada coisa na vida:
Se existe um grande sentido
Antônio Tintino

Oh Mãe Gentil

.
Neste solo que tu és mãe
No esplendor deste berço
Seus filhos estão abandonados
Oh grande mãe gentil
Eles estão deitados eternamente
A espera de amor materno
O que espelha a sua grandeza
É um futuro impiedoso
Que faz deste Brasil
Um gigante que já adormece há 506 anos
Oh pátria amada idolatrada
Salve, salve
O povo deste holocausto
Da fome, da doença, favela e desemprego
Oh grande mãe gentil
Escute a súplica deste filho seu
Chega de promessas, e promessas
Neste ano de eleição
Eu te imploro assim
Me ame como eu te amo
Porque entre outras mil
És em tu Brasil
Que eu quero viver feliz
Jota Carvalho

Vilões da História

.
Onde está o filho do homem?..
Onde está o Amor..
Onde nsace a esperança,
Em que país mora a Paz!..
O que fizeram do sorriso das crianças,
O que fizeram com nossos velhos!..
.
Nosso céu não tem mais estrelas..
Nosso brilho escureceu,
O meio ambiente sendo derrotado,
O verde da bandeira está queimado..
São chamas de nossas matas,
A vida está passando..
Ou será que a morte está chegando?..
.
Onde está o filho do homem?..
Do meu mar envenenado..
Da tirania dos vilões que em meu violão chora..
.
A música se apagou..
O meu chão sem alicerces..
Não há mais vida própria na Terra..
Neste país não há mais amor!!
O mundo clama por Paz..
O mundo quer de volta o riso das crianças..
A experência de nossos velhos..
Queremos de volta nossa bandeira,verde e amarela..
Queremos o azul do céu,
Nossas matas..
Nossa água límpida..
Deste mundo sem amor,
Feche os olhos e reflita..
Anjos querem respostas,
A guerra pelo poder já começou!...
Marinês Martins

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Amor é?

.
O amor é começo de uma história que nunca terá fim,
é lutar por vc acreditando sempre em mim,
é viver a vida ao lado da pessoa querida, é correr contra o tempo esperando o momento certo
de encontrar o verdadeiro sentido da palavra : FELICIDADE,
é a mais linda de todas as canções ou a mais bela de todas as paixões?
Não sei, sei apenas que o amor é tão forte e fascinante que renova
as nossas forças do cotidiano a tal ponto com que venhamos sonhar
com um dia inesquecível.
Adriano Carlos

Bem Te Vi

.
Te vi
De noite, no escuro, te vi
De lado, parado, no carro eu vi
Vi teu perfil
Calado, malvado, te senti
Quis gritar, não consegui
Quis correr, não me mexi
Fiquei parada, abobalhada
Na calçada
Você ali, na minha frente
Eu aqui, demente
Você me viu? Não vi
Não vi mais nada, só te vi
Ansiosa calada
Viu e virou a cara? Não vi
Bem
Te
Vi
Lyscia Braga

O Remédio é Sorrir

.
Tirei um tempo pra mim
E voltei ao meu passado
Entrei em um quarto escuro
Em meio alguns bagulhos
Lembranças eu encontrei
Sentei, fechei os meus olhos
E VOCÊ eu encontrei
Sorriso veio ao meu rosto
E aquela faísca de desgosto
Eu vi desaparecer
Imagina o que eu senti
Que a felicidade estava ali
E ela eu pude reviver
Peguei fotos e olhei
Minha mocidade não encontrei
Então pude comparar
Que o que guardamos da vida
São amigos de verdade
O resto é vaidade
O tempo tudo consome
O que fica nessa vida
É a dignidade do homem
A solidão foi embora
E o que fiz nesta hora
Janela do quarto abri
Deixei entrar a clareza
E pude ver concerteza
Que quem fica em quarto escuro
Não sobe nem desce do muro
Triste será o seu fim
Na vida os dias passam
Para a vida ter graça
O Remédio é Sorrir
Dinha

A Revolução

.
Houve uma revolução no mar
Que a lua cheia prateia
Porque você foi eleita
Mais bela que a sereia
.
As rosas estavam muito triste
E no jardim havia fortes rumores
É que a primavera fez de você
A rainha de todas as flores
.
No céu as estrelas e a lua
Não queriam nem acreditar
Porque Deus fez dos seus olhos
Novo astro para noite iluminar
.
Você causou uma revolução
No céu na terra e no mar
Sua beleza é tão divina
Que faz o mundo sonhar
.
Por isso todos os espelhos
Estão sempre a discutir
Porque todos eles querem
Sua linda imagem refletir
.

Tá vendo o que a sua beleza faz?
Jota Carvalho

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Morena

.
Noite linda
Céu totalmente estrelado
Essa poesia quem escreve
É alguém muito apaixonado
.
Lua brilhando
Coração batendo a mil,
Um homem que está amando
Deve ser com sua dama cavalheiro e muito gentil
.
Pele linda e macia
Sai na noite serena,
Com você realiza meus sonhos, planos e fantasias
Pois você é a minha morena.
.
Esse olhar tem feitiço
Me levou à outro mundo
Nele eu me perco e lhe entrego
O meu amor que por você é profundo
.
Seu jeito meigo de ser
Foi o que me conquistou por inteiro
Seu lado romântico
Fez eu entender o que é Amor Verdadeiro
.
Ter o amor dessa linda mulher
É melhor que acertar na Mega-Sena
Nela eu me espelho e falo para o mundo inteiro
Que amo essa morena!
Tiago Poeta
.
Ele poeta, ela corpo.
Ele escreve, ela página.
poesia na pele.
Ele respira, ela inspira
Ele transpira, ela suspira
palavras na pelve
Ele métrica, ela cadência
Ele rima, ela dança
versos no colo
Ele canta, ela ritmo
Ele ponto, ela vírgula
frases sobem, rimas descem.
Ele recita, ela sílaba
Ele concreto, ela clássica
Ele poeta, ela poesia.
Clarice Lis

Poética

.
Escrevo como quem anuncia em jornal
E deseja ser amado.
(Como uma puta à beira da estrada
Que levanta a minissaia)
Escrevo rápido, conciso: sem floreios.
Mas, quando é preciso, bem no final,
Eu ponho uma ou outra rima
Só para fazer o clima.
Fabiano Silva

Momentos de Reflexão

.
A luz do amor não pode se apagar jamais
Para que a luz do ouro possa brilhar
Porque os braços não mais se abraçam
Já perderam o sentido de amar
.
Matando a realidade, realizam os seus sonhos
Destruindo o planeta a humanidade será castigada
Sepultando o mundo com nossa ganância
Veremos que dinheiro sem amor não é nada
.
O dolar é o verde da sua vida
Ele te faz respirar o ar puro do cifrão
Faz correr em suas veias o ouro derretido
Porque a riqueza faz pulsar o seu coração
.
Um dia o amor será relíquia no museu
Ele será exposto sobre uma estante
Te olhará com piedade nos olhos
Porque foi trocado pelo diamante
.
Você irá lembrar do provérbio indígena
Que um dia a humanidade sentirá fome
Que só tombar da última árvore
Verá que dinheiro não se come
Jota Carvalho

quinta-feira, 24 de julho de 2008

.
O silêncio da noite cálida
traz um amor de cálida
esperança, na alma cálida.
é a paz de uma saudade.
.
Sei fazer poesia
em tua alma pura
sei dizer poesia
em sua candura...
Maria Poeta
.
Na estrada da vida
o otimista
espera sempre chegar
porém
o pessimista
acha o caminho longo
e desiste
sem ao mesmo
tentar
O espelho reflete
a imagem da alma
não tenha medo
no que vai ver
Verás
alegria, tristeza e mágoa
mas
isso vai te fazer
crescer
Crescer como ser humano
sabendo reconhecer
que a vida
é um aprendizado
basta apenas
querer aprender
Muitas vezes
caminhamos, por caminhos certos
de forma errada
Muitas vezes
caminhamos por caminhos errados
de forma certa
.
Buscando sempre
em um lugar chegar muitas vezes
essa caminhada termina
sem o objetivo
alcançar
Nilto Tico

Definir o Amor

.
Definir o amor...
Na expressão de um sorriso,
Do abraço da saudade
Nas páginas da vida..
Que o tempo não pode apagar
.
Definir o amor...
Na sensibilidade de uma lágrima,
Acreditando na esperança
Vivendo nas noites..
O segredo das sombras..
.
Definir o amor..
Nas profundezas da alma,
Em que tudo parece definir,
O instante do milagre
No sopro da vida..
o nascer de um novo dia..
.
Definir o amor..
Nas pequenas coisas
No encantamento das canções,
sentir o cheiro das flores na primavera..
Ser como um botão de rosa, em cada amanhecer
.
Definir o amor...
Como ser único,e especial
Lembrar sempre..Jamais esquecer!!

Marinês Martins

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Árquivo Único

.
Como a noite em sonhos...
Assim são teus olhos,
Teu sorriso aberto
Teu caloar tão certo
.
Como a noite em sonhos
É assim nosso encontro..
Você meu verso,
Em nota te rimo...
.
Como a noite em sonho
A espera longa
Vejo-te nas estrelas,
No espelho de minha alma
.
Sempre morrendo na saudade
A voz que soa nos ares..
Da melodia que ocupam
O arquivo de meus pensamentos...
Marinês Martins

Gravação

.
perco-me na imensidão da mata.
por entre os pinheiros
brotam os cogumelos.
as nossas pegadas
há muito desapareceram.
é Inverno,
tudo está num verde pinho,
num verde musgo.
finalmente…
encontro a nossa árvore.
soberba e arrogante.
uma sobrevivente,
depois de um Verão
de incêndios.
.
toco-lhe.
toco na nossa gravação
e sinto-te.
.
sinto a nossa juventude
sinto-te em mim
sinto saudade.
Ana Oliveira

Ah! Este Deus do Homem!

.
Deus maculado dos homens sem Deus! Sem céu!
Deus dos criadores, dos opressores, sem Deus no céu!
Grito teu nome espraguejando teu céu!
Espraguejando teu peito!
Tuas culpas!
Tuas mãos!
Deus, onipresentemente solitário!
Deus, oninconscientemente comprável!
Deus, onimpotentemente criado!
Assuma tua cegueira!
Mostra tua face!
E aceita teu carma de ser ateu!
Sinquê de Mello

sexta-feira, 18 de julho de 2008


Pesadelo

.
intranquila
e sem poderes
premonitórios
teve noite agitada
.
tudo pesava chumbo
corpo, objectos,
até o gasoso
e o liquido.
.
sentia-se dúctil.
sentia-se impotente
.
o corpo
separava-se
e juntava-se
.
tentava agarrar
o dia de ontem
vezes sem conta
contando cem vezes
.
tentava apagar
um episódio
Ana Oliveira

Valsa Triste

.
Dance comigo esta valsa triste
Em flores dos meus beijos
Que deixei aos teus pés alados
A pisarem o céu do meu inferno.
.
Brincas ao som
Desta valsa triste dos meus olhos
A plantarem beijos-flores azuis
Dos sonhos que nunca dancei.
.
Dance nesta valsa triste
Sob os olhos do luar
De beijos-colibris.
.
Baila na valsa triste
Dos meus desejos-céu
Que escrevo a ti.
Sinquê de Mello
.
Nem tudo que reluz é ouro.
Nem todo pranto é choro.
Nem toda realidade é verdade.
Nem falta é saudade.
Nem sempre que está claro é dia.
E nem tudo que se escreve é poesia
Antonio Tintino

Acrópole

.
Um dia, fiquei maravilhado com tantas borboletas que adentraram minha casa. Eram de todas as cores: Amarelas metálicas azuis; Pretas alaranjadas beges; Azuladas de turquesa e jade; Encarnadas de flores! Terras! Matos! Águas! Céus! Raios! Nuvens! Noites! Chuvas! E de todos os tamanhos...Elas rodearam-me pousaram em mim e sobre todas as coisas.Dizem que quando uma borboleta entra em nossa casa ela vem trazendo bons presságios.
As borboletas são seres interessantíssimos, elas me deixam fascinado. Mas elas têm tão pouco tempo para voarem com o vento, beberem, beijarem e se embriagarem com todas as flores no jardim para eternizarem essa passagem tão eternamente momentânea.Eu descobri que todas aquelas borboletas belíssimas vieram se despedir de mim, e buscavam um canto calmo em minha casa e em minhas palavras para descansarem suas tão novas asas recém envelhecidas.E eu as vi morrendo felizes nesse túmulo, e foram instantes de tristeza que me fizeram refletir um pouco mais sobre a verdadeira finalidade da vida.Passamos tanto tempo nos matando lentamente, enquanto as borboletas passam tão pouco tempo vivendo intensamente.Então, sejamos borboletas!
Raimund Hazullw

quinta-feira, 17 de julho de 2008

.
Esse nosso desafio
No passado era impossível
Agora isto é incrível
Não precisa nem de "fiu"
Nem a bala de "fuziu"
Não pode ser mais ligeira
Em toda terra bregeira
Tá pegando igual chiclete
Com a invenção da intetrnet
O mundo está sem porteira.
Sandoval Junior

Instantânio

.
O trânsito caótico
não flui.- Crianças
esmolam no farol
.
Um pombo decola
ou pousa e some
diluído no concreto
.
Enquanto impune
a sombra do edifício
engole a minha.
Wilson Guanais

Só por hoje...

.
Um copo de qualquer coisa para aliviar essa ansiedade.
Um livro para acalmar as horas que estão à porta da partida.
Uma fragrância qualquer, ou a tua, só para deixar mais risonho o dia.
Um lugar onde possamos gritar enquanto o vento nos sinta,
E com isso, leve nossas gargalhadas por todos os cantos.
Um leito-colo acolhedor que nos receba com silenciosos brindes
De drincks feitos de luzes de pirilampos.
Alguns minutos somente, para podermos juntos, fazer juras as estrelas e a lua.
Somente hoje, quero está aqui, e não pedi mais do que a tua presença sorridente e calma,
Com os olhos cheios de perguntas para serem feitas,
E quere dormi abraçados, para acorda um ao lado do outro.
Sem a sensação de está sozinha (o). Somente por hoje.
Anna Voegg

Desejos

.
Escondem-se
Na crina das ondas
No dorso das colinas
No galope das tempestades
Na quietude dos olhos mansos
.
Revelam-se
Nas paixões humanas
Nos dias
Nas noites
dos dias
Mariam

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Interior da Alma

.
Se a ador que cresce..
Mora em minha alma..
Destroem cada ilusão..
Que mata o coração..
Se eu pudesse me ver por dentro..
Ver através do espelho..
.
A luz que ri...
.
Saberia combater esta mais triste história..
Que horas vem, outras se vão..
E insistem em ficar..
São momentos que não acredito em mim,
Mas em você que está ausente..
Que nunca está presente..
Mas que em meu coração..
Prevalece a todo instante..
Este amor que você não conhece..
Este amor que abre uma janela de esperança..
Para os meus dias e minhas noites..
Serem luz..serem vida!
Mas que não é vivida quando há morte em meu interior!!
Marinês Martins

Lição de Amar

.
Quero te dizer,
te pedir
para sempre lembrar
preciso urgente reaprender
a amar, a querer, a beijar,
a ter e me dar,
a falar e escrever,
a pedir e exigir,
a sorrir e chorar,
a falar e rezar,
a beber e comer,
a dormir e acordar,
ensinar e aprender,
por todo o resto de vida
que acredito ainda ter.
.
Então te peço,
Venha me ensinar,
Me faça menino
Em busca de um doce.
Eu preciso
reaprender
seja minha mestra
me passe a lição,
me chame a atenção,
depois, com carinho
afague meu coração,
faça-o renascer,
pulsar, vibrar
e para o resto da vida
te amar.
M. Chammas
.
Queriam-me reta
Queriam-me certa
Queriam-me correta
Porém desagradando a todos, nasci eu
Não o desejo dos outros
Mas eu com minhas formas e imperfeições
E se eu incomodo?
Não me incomoda incomodar
E se eu não satisfaço
Serve lamentar?
Não eu não vou mudar
Não quero perfeições e regras a seguir
Não quero ser mais um num todo
Não quero me perder no bolo de merda que o mundo cria
Se for pra ser merda que ao menos seja autêntica
Sim merda autêntica
Deixe-me me ser eu
Produzindo a própria merda que sai de mim
E não me diga do que devo me alimentar
Eu tenho minhas próprias vontades.
Pequena Poetiza

Uma saidêra pra dor

.
Vc é como... pedaço de pizza de madrugada
Música que a gente canta como se fosse nossa
Livro que a gente vive indicando
.
Chefe que reconhece o nosso esforço
Irmão que a gente leva junto pra sair
Carro que espera pra quebrar em casa
.
Filme com Oscar de melhor roteiro
Disquete que arquiva o meu passado
Namoro que dá um tempo no Carnaval
.
Trânsito que permite o meu trânsito
Jardim de rosas sem espinhos e sem Guarda
Palavra que traduz qualquer sentimento
.
Amendoim que vem de cortesia
Banho demorado e sem culpa
E tudo o que um tal de Chico diria melhor
.
Coisa que uma amiga garante que não existe
Que um amigo garante que já tem
E que eu garanto que não sei,
Mas que continuo querendo.
Carlos Valini

terça-feira, 15 de julho de 2008

Benditos

.
Benditos os que possuem amigos,
os que os têm sem pedir,
Porque amigos não se pede,
não se compra nem se vende.
Amigo a gente sente!
.
Benditos os que sofrem por amigos,
os que falam com o olhar,
Porque amigo não se cala
não questiona nem se rende,
Amigo a gente entende!
.
Benditos os que guardam amigos,
os que entregam o ombro pra chorar,
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora
pra consolar!
.
Benditos sejam os amigos
que acreditam na tua verdade,
ou te apontam a realidade,
Porque amigo é a direção
é a base, quando falta o chão!
.
Benditos sejam todos os amigos
de raízes, verdadeiros,
Porque amigos são herdeiros
da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Machado de Assis

Every time I close my eyes I see your face

.
Teu rosto... teu cabelo loiro... tuas belas pinturas. Teu nariz
embala-se perante o olhar. Me seduz teu cabelo... O teu sorriso é leve
e solta-se como um último acorde de um violino solitário. Teu jeito de
ser é doce, rutlilante, deslumbrante... Dás-me esperanças como se não
houvesse amanhã. Sorris como se me amasses. Mas será? Por entre os
teus lábios entoas melodias formosas e divinas como um jardim rodeado
das mais belas pétalas de rosas alguma vez vislumbradas. Tua
sinceridade honesta, é mágica em cada teu balancé, teu perfume
compara-se à furia do mar... Agressivo e encantador. Em tuas ondas,
mensagens mágicas de extâse flutuam. De perfil és deliciosa,
perfeita... Como um beija-flor, hospedaste no meu pensamento e
consome-lo. E eu? Arrastas a tua simpatia, ironia e benevolência por
entre o espaço que te pertence, que te protege, que te esconde do
mundo. A passadeira estende-se com os teus raios de beleza. O caminho
é livre para espalhares ventura em mim. Não me posso render a este
ópio ardente de paixão.
E se subitamente quisesse lutar por ti, largar o mundo, destruir muros
e barreiras, desbastar vales, abandonar vidas, rasgar poemas,
abandonar utopias e concretizá-las? Why can´t I be happy without you?

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Poesia

.
o que não conta agora
é a palavra;
quando se apanha estrelas,
os olhos contam de sonhos
até o outro dia.
.
paz ainda
(e) em êxtase,
ela vai expirar o cansaço
e ficar quietinha
em seus braços.
.
um verso
respirando
a poesia.
Célia de Lima

Musa clara

.
um dia, encontrei no ar
sem que pensasse ou previsse
e no lirismo em que flanava
a musa, que se ia ligeira
tal qual alva pomba verdareira
.
tramava, ela, as urdiduras
urgentes de um poema
em um oficio de anjo
.
consenti a esperança e me vi feliz
como o macaco da fabula
de Pedro Malazartes
que pela estrada, ia tocando
em seu banjo alegre, uma toada veloz
.
foi neste este dia
que, o destino, pelas artes
ficou denso como
o mar da Irlanda
e eu perdi, do tempo, a noção
numa viva epifania joyceana
.
senti que, ali, ainda
o meu coração de leão
se habitaria de poesia
pela decurso
da vida inteira
Ricardo S. Reis

domingo, 13 de julho de 2008

Querida Alice,

.
hoje o gelo não funcionou
e apesar de ter ido às compras,
trocado para roupa nova
e de ter feito novo corte de cabelo….
hoje não funcionou.
.
coloquei de lado a sopa de cevada
e substitui por pudim Francês
que mamãe fazia.
tentei fazer tudo direitinho
mas não deu certo.
meu receituário deve se ter estragado,
- igual a minha vida
.
hoje tentei de tudo
até de percurso troquei.
mas quando cheguei a casa
e vi tanta coisa embalada,
me querendo dizer adeus…
mil lágrimas chorei.
.
chorei mil lágrimas
por cada livro que parte,
mil lágrimas
por cada beijo que não dei
mil lágrimas
por cada entrega que de mim fiz.
Ana Oliveira

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Amor perdido

.
Grande parte das pessoas não sabe valorizar quem tem ao seu lado e acaba matando o que há de mais sagrado: amizade, amor. Não se morre só quando se perde a vida. Morre-se também quando perde-se o senso de justiça e consideração com as pessoas que sempre nos amaram, nos deram força e acreditaram em nós. Morre-se no coração dessas pessoas.
Cláudia Gonçalves

Autobiografia

.
no caminho certo das formigas sobre a pia
vou compondo meu universo de dezembro
enquanto meu irmão pede calma e assobia
uma canção que de tão triste já não lembro
.
minha mãe compõe caminhos e versos e fogo
e o meu céu fica por trás do ópio e da porta
através do inferno a vida fumaça de jogo
trinca de baralho ou lâmina que não corta
.
mas a festa está ao longe e se foi o carnaval
ânsia é só um abraço na minha filha de neve
na sala a casa é criança, gritos e festival
.
o ano passa e tudo mais a mais ficando leve
a rua um alpendre de desilusões e continuo
essa quase música que sem fim não concluo.
José Leite Neto

Ionosphera

.
em matéria de amor
não deixo por menos
vou a Marte
daqui até Vênus
Ricardo Reis

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Surgimento da poesia

.
§Como um vulcão a vomitar cacos de vidro que teimam em me cortar as entranhas, um movimento involuntário, único, explode como o por do sol, que sem pudor se entrega ao meu espelho, refletindo o reflexo prata da lagoa, as sutis mudanças de tons, desse momento de pura poesia, que todos os dias se repete, sem nunca ser igual, sendo sempre um transbordar de amor. Acolhendo como o Cristo de braços abertos, ao som de pássaros diversos, da garça ao beija-flor, que me visita e para mim dança sem par. Surge em mim a poesia, desconhecida e cheia de mistério, me possuindo nesse cenário de grande magia, a Lagoa, onde vivo a observar o mundo que como eu renasce a cada dia.
Lyscia Braga

De Propósito

.
foram
os deuses
foram eles
.
foram
as deusas
foram elas
.
esqueceram
algum
barulho
.
onde
a poesia
cochilava.
Wilson Guanais

Discrição

.
leva-me contigo.
ocuparei somente
o teu interior.
viverei na tua sombra
e alimentar-me-ei
de ti.
Ana Oliveira

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sobre anjos e medos

.
Tenho medo de tudo isso
De que me vale as asas
Se elas não são fortes o suficiente para me levar até onde desejo
Tenho medo dessa luta contra a maré ser vã
Às vezes acho que no fim de tudo isso
Estarei cansada, com as asas quebradas e o coração em pedaços.
.
Todo os anjos caem
Mas quais são os capazes de se levantar??
Mais raro ainda são os que conseguem seguir viagem sem marcas.
Tocar a vida como se nada tivesse acontecido
.
Chego a duvidar que sou mesmo um anjo
Essa minha falta de otimismo, de fé nos fatos e pessoas
Esse desanimo sem justificativa, esse medo da vida
Será que essas características são plausíveis a um anjo??
.
Talvez o "diabinho" dentro de mim esteja falando mais alto
Acho que essa calma, a voz doce e o encanto na face,
São apenas armadilhas para os verdadeiros seres alados
E que eu, de anjo, não tenha nada
Apenas o dom de encantar
.
Nessa duvida entre o céu e o inferno,
Pelo menos por enquanto,
Ficarei com a terra mas,
Não abandonarei meus "sereszinhos" alados...
Gabi Reciputti

A dor que trago

.
Qual encanto adormece
Se você é a música
Que faz-me sonhar..
.
Que tela retrata
Se você é a imagem
No mais forte brilho das estrelas
.
Que poema escrevo
Se você é a realidade
Desta onda de ilusão
Que em meu mar agita...
.
Que morte então me cala
Se você é meu silêncio
Que na dor eu trago..
.
O corte que há na alma
Escondida não revelo
Ela queima a ferida
.
Na dor que flui
Na distância do momento adiada
.
Você é o Espelho!
Marinês Martins

O Mundo é Um Moinho

.
ainda é cedo amor
mal começaste a entender a vida
já anuncias a hora da partida
sem saber mesmo o rumo que irás tomar
preste atenção querida
embora eu saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco a tua vida
em pouco tempo não serás mais quem tu és
.
ouça-me bem amor preste atenção
o mundo é um moinho
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
vai reduzir as ilusões a pó
preste atenção querida
de cada amor tu herdarás só o cinismo
quando notares estás a beira do abismo
abismo que cavaste com teus pés
Cartola

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Distância

.
levaram meu sono
- meu repouso periódico -
e eu perco-me
no vazio
num oco
volúvel
sem poema
num distante
abstracto
de um tempo
inexistente
vou inventar
uma prece
que bloqueie
meus sentimentos
*
não mais vou sentir
a mágoa
o tempo
o sono
*
e sem sentimento
não sinto a distância
*
Ana Oliveira

Plenitude

.
meu corpo
procura
o seu
.
seu corpo
procura
o meu
.
Nós
somos um
no outro
.
os dois
endereços
de Tudo.
Wilson Guanais
.
Transparente o rosto também é água
fora de seus domínios
.
Tenta ser olho apenas
Para evadir-se como parte de rio
.
Em seu templo sereno
as ondas são inimigas deste mar equilibrado
.
Como concha, ainda revela-se o rosto
Pacífico e Atlântico
.
Índico, em seu idílio de remontar outro mar
Ártico , em desejo de querer-se íntimo
.
Glacial , Antártico
Com que se deixa revelar.
Eduardo Martins

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ela sabe...

.
Ela sabe o que é bom
Ela sabe as maravilhas da vida
Ela sabe que há prazeres no mundo
Ela sabe que o amor existe
Sabe que há algo que se chama amizade e que quem a tem é rico de verdade
Sabe que há lindos lugares
Sabe do prazer de sentir o ar fresco batendo no rosto e remexendo os cabelos
Sabe que há um mundo lindo repleto de tudo o que há de bom
Ela sabe tudo
Mas sabe de já ter ouvido falar
Sabe por que alguém já lhe contou
Sabe por que de longe já viu
Apenas sabe...
Mas saber sobre algo não é vivenciá-lo
Porém ela não teve escolha
Ou talvez não se deu a escolha
Viveu olhando tudo através da janela
Ao invés de abri-la e colocar a cabeça pra fora
Pequena Poetiza
.
Escrevo para tentar dormir
Para afrouxar o nó no peito
Não tenho orgulho nenhum nisso
E só para acalmar o desespero
Há um súbito prazer quando as palavras me derrubam lágrimas,
e elas escorrem doce ai sinto deus vivo.
Amargo e voltar a vida e ver que tudo não passou de poesia
Thyago Bezerra Melo da Silva

Renascença

.
Tentativas tantas eu tive
Tantas vezes iluminei
Minha existência
Que cansado me quedei
E escondido fiquei
A sofrer e a chorar
.
Decidi mais por medo
Que por vontade
Não buscar nova ilusão
Não tentar mais outra vez
Reviver meu coração.
Decisão essa de covarde
Que prefere calar a falar
Chorar a amar.
.
Eia, pois, agora,
Ignóbil varão,
Mais vassalo
Que patrão
Mais medroso que tinhoso
Vai ao poço
Mata a sede
amorna teu coração
encontra nova paixão...
.
Decidido e resolvido
Das minhas trevas saí e,
Com as forças renovadas.
E a esperança atiçada
Voltei ao amor procurar
E de dentro deste peito
Um brado guerreiro sai
E aos viventes avisa
Quero outra vez tentar...
M. Chammas

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Reflexo

.
Às vezes almejo com dor,
não só o amor, mas o desejo
que nós tínhamos juntos.
.
Como um vampiro, o anverso,
Queria, de novo, ver teu corpo
Irrefletido no espelho.
.
E tomar-te no sonho...
e em igual proporção,
elevar-te do solo
ao cravar-te os meus dentes.
.
Então, sorver o teu sangue quente,
sabendo entrementes,
de antemão, que o reflexo
da sombra que sou eu,
restará sempre convexo.
Ricardo S. Reis

Boemia do Espírito

.
não é bom
beber poesia
todo dia
.
o espírito pode ter de luz
disenteria
Gustavo de Castro

Permuta

.
troco-me por ti.
para ser teu sentimento
tua água na boca
para te ouvir
e sentir
.
troco-me por ti
para não sofreres
para te velar
fazer rir
e amar
.
troco-me por ti
para te tocar
Ana Oliveira

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Pas de deux

.
na dança das nuvens
te recebo galáctico
navegando minha boca
.
como se fossem eternos
nossos beijos elétricos
.
na dança do desejo
te recebo fálico
avermelhando meus sinais
.
como se fosse cálice
bêbado do teu vinho
.
e ao som de blues
embriagamos amor
eletrizando nossa taça
Euza Noronha

Foto Grafia P. XVI

.

Nas solidões em que me perco
Todo corpo é uma fuga
E sempre fujo, corpo sujo
E assim me perco em mais outra solidão

Em madrugadas ligeiras
Só os versos me acompanham
Só a foice mostra a face
Só a força agüenta e deita
.
Nas solidões em que me acho
Rezo um terço em plena terça
E amanheço em outro quarto
Quando não, ajoelhado na esquina

E nas tardes traiçoeiras
Bebo a dor de mais um dia
Digo aos outros mil mentiras
E assim recebo tantas mais

Pois nas solidões em que me encontro
Todo verbo é o traço da meada
E os fiascos de ilusão compõem
Meu único motivo para amanha, amanhecer...

Cadu Oliveira

Mensagem à Familia

Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor,
peça-lhe para ser bom e dê exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele,
vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que seu filho não o escuta, ele o olha.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar,
não compre outra...
Ensina-lhe a viver sem portas.
Eugênia Puebla

terça-feira, 1 de julho de 2008

De Quatro

.
Quatro e vinte quatro
Madrugada fria
.
Quatro e vinte oito
Confesso ter pensado em você as quatro e vinte quatro
.
Quatro e trinta e um
Continuo brigando comigo pra não falar de você
.
Quatro e trinta e três
Me assusta o pensamento de que talvez o nosso tempo passou
.
Quatro e quarenta
Decidi ir deitar antes que amanhecesse mais um dia sem você.
Carlos Valini

Bonde da felicidade

.
Sem nada para fazer,
sem rumo para tomar,
sem amor para cantar.
Caminhando sem destino,
ia eu velho-menino,
pela estrada da vida,
sem chegada, sem partida.
Surgiu de repente um bonde.
Curioso fui olhar.
Não revelava o destino,
Nem tampouco o seu trajeto.
.
E novamente este velho,
Dando licença ao menino,
Resolveu: Vou me abancar!
Decidido então subi
no tal bonde sem saber
o que iria acontecer.
Mas levava a esperança
De todo o circuito fazer.
.
Parte o bonde e,
Surpresa!
Alem do velho-menino
Uma outra passageira
Nesse bonde existia.
Nesse bonde aventureiro
Decidida a percorrer
Tal e qual o velho-menino
Os caminhos do destino.
Ela e o velho-menino
Quase que de imediato
Suas mãos entrelaçaram.
E, os três que eram dois
Resolveram em união
Seguirem juntos o destino
Desse bonde sem idade
Em busca da felicidade.
M.Chammas

De ontem em diante

.
De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada são coisas distintas
Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?
Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes, bem antes, um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras, das besteiras e das besteiras que fizemos ontem
Fernando Anitelli

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Sede

.
fenda
na pele
alma
minha
em estado
gotejante
de ambulante
em desertos
errante
em
água de sal
degenero
desidrato
sacia-me
beija-me
Ana Oliveira

Ecos do silêncio

.
solos de guitarra flamenca
morrem no ar
sementes regadas a rum
germinam no solo
.
do lado de cá do espelho
a bela adormecida
embebeda-se de sonhos
.
e dedilha alucinadamente
o fio da navalha
Euza Noronha - A Loba

Aceitação

.
Vem Amor
mas venha logo
venha agora
.
que tudo é tudo
e eu te espero
aqui:
.
na minha casa
na minha cama
na minha carne
.
- ou na sua.
Wilson Guanais

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O Baile

.
Antes a valsa
Alegre rodada,
Ligeira, marcada
Íamos os dois
A rodopiar.
Ouvidos alertas
Os corpos eretos,
Os pés mui atentos
Corações palpitantes
E a valsa a tocar.
.
Acordes finais,
A valsa acabou.
Pares desfeitos
Olhares refeitos
Posturas,
Mesuras
Todos perfeitos
Num canto afastado
Olhar estudado
Instinto aguçado
Me sinto enlevado
.
Te olho
Me olhas,
Sorrio
Sorris.
Te chamo
Tu vens.
.
Recomeça a musica
Reconheço o ritmo
Nada mais sugestivo
Bolero.
Quiçás, quiçás, quiçás...
Te enlaço e
Bailamos,
Aos sonhos nos entregamos
Quiçás, quiçás, jamais!
.
Te beijo,
Me beijas.
os olhares se cruzam,
os lábios unidos
não podem falar.
As mãos aloucadas
Em busca frenética,
Te apalpam,
Me apalpam,
Com força,
Sem meta,
Instintos acesos,
Voamos com as pernas
Corremos com afã,
Buscamos a alcova,
Dos nossos delírios
Dos nossos desejos
.
Te dispo,
Me dispo,
Te abraço,
Me abraças,
Sinto teu peito arfar,
Vejo teus seios
Subirem e descerem
No ritmo de tua respiração.
Minhas mãos percorrem,
Sem rumo ou nexo
Teu corpo, tuas pernas.
E então fazemos amor,
Nos consagramos ao sexo.
Depois,
extenuados,
Num abraço apertado,
Dormimos apaixonados.
M. Chammas

Terra fértil no sertão

.
No ódio,
No ódio encontrou o almejado amor perdido,
para amor novo eis escolha,
foi obrigada a enfrentar o ódio antigo,
desfazer as mágoas de antes no agora.
.
Na ironia das linhas tortas e palavras certas,
teve que abrir mão do que seja:
orgulho, aprendizado, metas,
Em razão do primeiro beijo,
origem de setas.
.
Ponto final.
Início de outro capítulo.
Longo, único e último capítulo.
.
Deixou de olhar a sujeira no rosto do marginal,
para ver as janelas da alma do marginalizado.
Deixou de ouvir o barulho,
para escutar a canção da revolta entre linhas.
Deixou de ser parede,
para ser porta aberta.
.
Deixou de ser parede,
para ser porta aberta!
Silas Delgado

Aquele olhar

.
Normalmente fico bem,
assim feliz, mesmo que meio triste.
Quando me deparo com aquele olhar,
o maior, um sol, um lago, parece que vôo.
Não! Engano-me. Sou lançado longe
por detrás da sétima camada da alma
e bato, me quebrando todo, no áspero granito.
.
Forço-me e quero ficar bem,
assim feliz, apesar do baque na pedra.
Quando me deparo com aquele olhar
o menor, pequena chama, gota d’água, parece que vôo.
Não! Engano-me. Sou arremessado longe
por detrás do sétimo sonho perdido
e caio, me quebrando todo, no áspero granito.
.
Mas,
apesar dos baques
o que mais quero a cada dia
é rever aquele olhar,
Única prova de que na vida pode haver
amor.
Dauri Batisti

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Consideração

.
Por favor, abuse de tua liberdade ao meu lado
.
Comigo, você poderá sempre procurar a paisagem mais bonita
Comigo, você poderá sempre respirar os ares de suas escolhas
.
E só espere de mim as cenas de ciúme mais delicadas
.
Daquelas melhores que qualquer declaração de amor
Daquelas que quando se nota só se sabe revidar com um beijo
.
Porque o meu amor só te cercará de respeito e segurança
.
E nada que censure o teu sorriso eu serei capaz de fazer
Pois foi assim que aprendi com meus pais
E é só assim que eu quero te ter.
Carlos Valini

Concepção

.
Corpos nus,
respiros cheios
de RRs e UUs.
Corpos molhados
de suor e pus.
Pus que não é pus.
Virilidade, natureza,
amor, calor,
maturidade, pureza.
Claridade de desejos,
escuridão de mentes .
Cobertas espalhadas,
cabelos emaranhados,
gemidos animalescos,
pudores libertados,
biologia,
sexologia,
tara, paixão,
embriagues, ilusão,
frenesi, exaltação.
.
Nesse quadro tão nojento,
ignóbil até,
surge milagrosamente,
cheia de pujança,
p'ra pecar no mundo
mais uma criança...
M.Chammas

No te vas

.
te quiero por la noche
de amor y pasión
en medio del imposible
.
me gusta cuando me hablas
me gusta cuando me quieres
tu ausencia es dolor para mi
.
ahora que te quiero tanto, no te vas
.
ahora que te quiero tanto, búscame tu
Ana Oliveira

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sem compromisso

.
faz-me falta
o risco
sem compromisso
e adorno.
.
rabisco rabisco
.
e o canto do olho
insistindo o sentido
é o próprio cisco
em que me recolho.
.
amanhã, quem sabe
dessignifico.
.
amanhã, quem sabe
um risco novo.
Célia de Lima

Propaganda

.
Comprando o que parece ser
Procurando o que parece ser
O melhor pra você
Proteja-se do que você
Proteja-se do que você vai querer
Para as poses, lentes, espelhos, retrovisores
Vendo tudo reluzente
Como pingente da vaidade
Enchendo a vista, ardendo os olhos
O poder ainda viciando cofres
Revirando bolsos
Rendendo paraísos nada artificiais
Agitando a feira das vontades
E lançando bombas de efeito imoral
Gás de pimenta para temperar a ordem
Gás de pimenta para temperar
Corro e lanço um vírus no ar
Sua propaganda não vai me enganar
Como pode a propaganda ser a alma do negócio
Se esse negócio que engana não tem alma
Vendam, comprem
Você é a alma do negócio
Necessidades adquiridas na sessão da tarde
A revolução não vai passar na tv, é verdade
Sou a favor da melô do camelô, ambulante
Mas 100% antianúncio alienante
Corro e lanço um vírus no ar
Sua propaganda não vai me enganar
Eu vi a lua sobre a Babilônia
Brilhando mais do que as luzes da Time Square
Como foi visto no mundo de 2020
A carne só será vista num livro empoeirado na estante
Como nesse instante, eu tô tentando lhe dizer
Que é melhor viver do que sobreviver
O tempo todo atento pro otário não ser você
Você é a alma do negócio, a alma do negócio é você
Corro e lanço um vírus no ar
Sua propaganda não vai me enganar

Jorge Du Peixe, Rodrigo Brandão E Gilmar Bolla 8

Amar

.
é ter-te
até ao limite
do non sense
em asa delta
sem fronteiras
sem barreiras
pisar contigo
a mesma areia
e
de pés descalços
sentir o mar
.
é ter sede de ti
é ter teu corpo
e contigo comungar
a mesma lua
o mesmo copo
o mesmo prato
a mesma cama
.
é querer-te a voar
sem te prender
ser teu apoio
ser outra parte
ser teu porto
teu sussurro
teu silêncio
Ana Oliveira

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Primeira Página

.
Abro o caderno como quem
abre o dia. Páginas claras,
limpas contam dos afazeres,
obrigações, esquecimentos...
(Anoto para esquecer)
Esqueço para poder sonhar:

- Escrevo para encontrar!
Maria Cláudia Mesquita

Sonho Real

.
Me sinto perdido
na imensidão do mar,
Ofegante,
cansado,
tento respirar.
Busco a calma,
a aflição
me embebeda a alma.
.
Olho à frente
e vejo bem perto,
uma praia.
Lá está a segurança,
a salvação.
.
Percebo
na linha do horizonte,
silhueta marcante
de uma palmeira.
linda e altaneira.
Figura delirante ?
Parece uma mulher,
insinuante,
elegante,
corpo esguio,
alucinante
.
Projetados
desse corpo,
dois frutos,
dois cocos.
Lembram
dois seios
deslumbrantes
cheios
de vida e viço.
.
As ramas
balançando ao vento,
parecem
cabeleira solta.
Firmo mais
o olhar
e vejo teu rosto
completando
a cena.
.
Tenho vontade
de correr.
Para você.
tento nadar
e a maré impede.
Na praia,
as pedras eu sei,
vão impedir
ao máximo
nosso contato.
.
Exangue,
cansado,
triste.
desanimado,
reconheço
a ilusão de
te abraçar e amar.
Fecho os olhos,
largo os braços
e me entrego
ao destino.
Sem ti, viver.
Morrer sem te Ter...
Miguel S.G. Chammas
.
A identidade está necessariamente ligada à diferença, supõe a diferença e que a diferença supõe a identidade, correspondendo ao estado real das coisas.
Hegel

.
não me toquem
pois minha pele arde.
envolvo-me em mim
num estado fetal
sem esperança
ou sorrisos vãos.
tudo ficou inerte,
até o tempo
onde vegeto
Ana Oliveira

sábado, 21 de junho de 2008

Cicatriz

.
Aquele que foi único ninguém esquece
Damos um tempo, dá-se umas voltas
Mas vira e mexe ele aparece
.
Surge do nada
Liga na Madrugada
A gente não entende
Mas atende
.
E o que o traz quase sempre é nada
O que a gente sofre quase sempre é tudo
Sempre estamos com tudo e com nada, palhaçada
.
O papo é confuso
Ficamos engasgados
A ligação dura pouco
E a noite dura o dobro
.
Eu já nem me lembrava da brisa do mar
Ou daquele ciúme que me incomodava
E ainda espero esquecer...
Mas será que quero mesmo?
Ninguém pode...
.
Nada apaga a memória da gente
Uma vez grande amor
Pra sempre saudade latente...
Carlos Valini

Explosão

.
Para te dar
fico sem corpo,
fico sem mim.
.
Meu intelecto pára
e minha generosidade
explode em você.
.
Dou-te a minha essência,
o meu âmago.
Dou-te a medula
da minha alma.
Ana Oliveira

Umbigos, virilhas e pentelhos

.
§Sou um cara sem a misericórdia de um guardanapo que mal serve como rascunho para meus versos falsos. As cantadas tolas sempre falham, pois sei que todo o pensamento naufraga em labirintos infinitos. É como respirar fundo com a cabeça embaixo d’água, em qualquer privada de motel. O abrigo perfeito seria entre as coxas das moças que nem sei o nome. Adoro perder-me entre umbigos, virilhas e pentelhos.
§Ainda me lembro da minha primeira trepada com a mulher que sequer amei de verdade. Recordo que nunca presenteei minhas paixões com flores, nem dei bombons às amantes em cada noite desmaiada entre seios e anseios por qualquer néctar. É irritante achar que sou um homem vigoroso, apenas por ficar de pau duro. Chulo? Pode ser. Mas não menos sincero que todas as ejaculações banais que nós, garanhões cretinos, costumamos desperdiçar por aí.
§Para entender o que é gostar de uma mulher de verdade, eu necessito de um estimulante alucinógeno. Simplesmente para me drogar toda vez que a vida se transforma em algo suportável. Tipo casamento, TPM e vitrines de shoppings. Não se pode quantificar a angústia, ou classificar a dor de quem jamais aprendeu a entender esta espécie sedutora e irritante que só quer amar. Será?
§Amor é complexo. Uma palavra-medo que contrai o diafragma e leva o estômago à boca. Eu apenas quero solidão e todas as mulheres ao meu lado. Sou cretino, cruel e apetecido por deltas e olhares fatais. Não quero que ninguém me julgue, por favor. É instinto misturado ao machismo. Tudo lecionado de pai para filho, geração após geração.
§Também conheci damas que afirmavam que monogamia é tédio. Outras me deram na cara, porque deixei claro que só queria a xoxota. Palavra de baixo calão! Desculpe, é que eu aprendi que ser educado é ficar em silêncio. Mas eu berro. Ainda não encontrei alguém para fazer com que as palavras sumam. Sei que preciso aprender a ser homem além cama. Tudo para permitir que algum verdadeiro afeto me aconchegue em uma única voz. Que cale a minha fala entre a cama e os olhares. Não adianta, pois sempre que alguma mulher fecha a minha boca, as palavras se entreabrem. Assim como as suas pernas.
Bruno Cazonatti

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Poética

.
Tem que ser
de improviso
sem nenhuma
razão
de existir
.
Pedra lascada
do instante
inútil absurdo
abstrato
.
Se mastigo
demais
o poema acaba
engolido.
Wilson Guanais

Retalhos

.
Escrevia no jornal
no guardanapo do café
no verso do post-it
no talão do mercado
no extracto bancário
na areia da praia
na palma da mão
no tampo sanitário
.
Escrevia frases fingidas
recados engravatados
e palavras mutantes
de sufixos inúteis
escrevia inícios sem fim
de fins sem inicios
em pontuação
e sem intenção
.
Escrevia diálogos
Escrevia receitas
Escrevia retalhos
Ana Oliveira

Lágrima

.
E tudo se finda com uma lágrima
No peito cerrado a dor reside
Queima, corta, espanca, agride
Esbofeta a cara de alguém que ama.
.
No céu, um sol sem cor
O que outrora era colorido, preto- e- branco ficou
Esperança, sorriso, juras de amor
Com a tristeza, silêncio,indiferença findou
.
A dor que no peito rasga
O nó que na garganta insiste
E a dúvida que dentro indaga
Se em teu peito o amor existe
.
E tudo se finda com apenas uma lágrima...
Arianna M. Andrade

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Dias atuais

.
Uma vez fui abduzido
Para uma cama estrangeira
Um país distante
A menina nem tanto
Nua com todas as curvas
Mal pude respirar
Não tinha tempo
O seu pai ia chegar
Falei umas besteiras
Que amanhã nem lembrará
A possuí com camisinha,
Cachaça, uns tapas.
Em cima da cama,
Da pia, da banheira.
No final o que sobrou?
Seu nome, por favor...
Valéria Telles

A Poesia

.
A poesia me marca como pasto à meia-noite,
Quando a coruja pia e o mundo gira no escuro
A poesia é a garrafa maldita da dor ocre,
Do corpo que goza mas nunca peca.
.
A poesia é o direito de dizer Opressão!
Quando os homens se maltratam e nõ se abraçam
.
A poesia é o amaldiçoar o inanimado
E se proteger com as asas dos anjos...
A poesia é conhecer você!...
Éric Meireles de Andrade

Pedaço de mim

.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
.
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus.
Chico Buarque

terça-feira, 17 de junho de 2008

Versos de Exclusão

.
Escrevo poesias minhas,
para o meu bem querer,
para meus olhos,
sobre minha vida.
São poesias sem sentido,
como as suas.
.
Escrevo poesias sobre mim,
sobre meus olhos diante da vida,
sobre minha vida diante de teus olhos,
para a ausência de seu bem querer para mim.
.
Escrevo poesias em fogo!
.
Escrevo poesias em fogo,
grito de ignorância,
choro em fúria,
proclamo minha trágica poesia em tiros.
.
Proclamo minhas poesias em tiros!
.
Escrevo poesias em fogo,
ninguém escreve poesias para mim.
Escrevo poesias sobre mim,
impossíveis de não serem ouvidas,
e ninguém mais escreve sobre mim,
ninguém mais.
Silas Delgado

Reclusão

.
Como aquele a desmaiar subtamente,
sem escolha,
sem momento,
sem mente,
semente cruel germinada,
subtamente sofro da cegueira dos ciúmes latente.
.
Ciúmes.
.
Correia de irracionalidade,
irracionalidade instintiva,
espremes meu coração tanto que o deixa pequeno,
e meus bofes são postos pra fora em forma de silêncio.
.
Silêncio.
.
Silêncio mortal para nós,
silêncio grito de dor,
silêncio súplica,
silêncio expressão de meu distanciamento do amor.
.
Distanciamento.
.
Distanciamento porque prefiro adiantar a dor,
enquanto em meu controle,
como se o amor tivesse controle,
do que desconta-la em ti.
.
Por ti.
.
Quanto a dor do ciúme e o medo de te perder,
prefiro ser egoísta há não ser,
não devolverei tamanha carga que me deu e engoli,
faço isso em nome do bem querer,
faço por ti.
Silas Delgado

Soneto de Domingo

.
Não tarde mais dum instante
O bocejo no ar da boa noite
Embalado na música do açoite
Deitado em casulo variante.
.
Quisera ter deste fim apenas o lume
Que brasa inofensivo no cume do incenso
E ser em lembranças somente um pretenso
Jardineiro que no jardim seu mundo resume.
.
Porém são maiores os dias no calendário
Perfilam sentinelas com velas em mãos
Iluminam sem dó tal qual dor de cera em pingo.
.
Personagem real antes que imaginário,
Resumido ao nu dos noturnos desvãos,
Entregue ao desuso de um ignóbil domingo.
Benito Francisco Vasques

Faz Tempo

.
Os anos se passaram em seu devido lugar
Deixando registros outrora jogados no esquecimento
E agora estamos aqui pra lembrar
Que o tempo vai cuidando das horas
E as horas vão matando o tempo
Faz tempo
Que eu esqueço das horas
E as horas vão matando o que penso
O tempo traz a história do mundo nas costas
Tudo isso vem no sopro do vento
Tão perto, tão longe
Hoje o chão passa rápido e perto do futuro
Me distancio daqui pra lembrar que estarei no amanhã, se precisar
A memória resiste ao que o tempo insiste em acabar
Quem se lembra, quem se lembra onde queria chegar
Ninguém sabe, ninguém sabe onde tudo vai dar
Faz tempo
Que eu esqueço das horas
E as horas vão matando o que penso
O tempo traz a história do mundo nas costas
Tudo isso vem no sopro do vento.
Jorge du Peixe

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Uma possibilidade

.
Um silêncio grande veio sobre mim
como um espírito ou algo assim que desce.
O que falo, quando falo, me custa,
estabeleço prejuízos irreparáveis,
gasto fortuna que não tenho.
Não há sabedoria, nem escuridão, só mudez.
Um anúncio me foi confiado,
mas recolho o impulso que me formaria a voz.
Guardo o ar que respiro para o que sinto,
algo como amar por amar e rir por viver.
Fez-me o silêncio um estranho,
mas me acostumo assim, outro feito de mim.
Fico fora de um eixo, alterado, crucificado sem dor,
grudado em lentidão nos instantes,
hipnotizado pelas insignificâncias do cotidiano.
Ao mesmo tempo vôo, pássaro ligeiro,
asas com penas levíssimas de prata,
para talvez pousar sobre o girassol de um dia diferente.
Me deixe assim, em silêncio, não me tente animar;
há uma possibilidade de não ser tristeza.
Dauri Batisti

sábado, 14 de junho de 2008

Ai se sesse

.
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tavés que nois dois ficasse
Tavés que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse
Zé da Luz

Brasil

.
Gotejando os dias,
dia após dia,
percebo,
que gotas de dia não explica,
caixa d'água onde afoga.
.
Conta-gotas de dias,
o que lavas?
Se tuas águas são de caixa d'água,
e chovem no molhado,
de terra nova e amarga,
neste continente torto.
.
Continente torto,
a coruja de Atenas paira sobre,
com nossas cabeças,
tortas.
Não seja um dos lobos,
mansos,
que comem,
bebem,
cagam,
se afogam,
e guardam tudo pra eles.
.
Continente torto,
olhe para si,
endireite-se,
entenda:
gotejando os dias,
dia após dia,
perceba,
que gotas de dia não explica,
caixa d'água onde afoga.
Silas Delgado

Jardim Esquecido

.
Foi-se embora do meu jardim,
Desesperada pelo aroma das rosas e jasmins
Retirou as sementes que plantei em sulco umedecido
Abandonou a pá e o adubo num canto de castigo
E se calou com espinho e cerca de boquim.
.
Foi-se embora do meu jardim,
Sem deixar nem um bem-me-quer como consolo arredio
Enterrou o cravo para embelezar um destino vazio
Afogou os lírios em surtos de arlequim.
.
Foi-se embora do meu jardim
Arrancou o mato tenro das lembranças vividas
E se benzeu em banho de alecrim
.
Foi-se embora do meu jardim
E secou o amor que prometeu a mim...
.
Foi-se embora do meu jardim...
Éric Meireles de Andrade

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Denso Vazio

.
Em um amor não correspondido,
acabei entrando,
em um labirinto sem saída,
acabei ficando,
sem saber o que fazer,
vou me afundando,
em uma maré de ondas negras,
me matando;
.
Minha vida sem sentido,
vou levando,
sem saber onde ir,
me assustando,
no silêncio de um vazio,
ouvindo vozes;
.
O fogo ardendo minha alma,
me sentindo sem vida,
sinto meu coração dizendo,
por sua causa estou vivida.
Maria Angélica D. Gonçalves

O Quadro

.
O quadro vem e desponta,
Belo, vigoroso, significativo e iluminado,
Rompe a parede dos tempos,
Dos pregos e das opressões
Para despontar na eternidade.
.
Mas os quadros não sentem,
Não se olham e não se encontram.
Ficam lá... estáticos...
Na busca de serem admirados...
(A arte não supera a vida da humanidade.
É dos homens que nasce a estética do tom,
Da mímeses, conjuntura e sabor em espiá-las)...
Éric Meireles de Andrade

Velha chácara

.
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desgastamos...)
.
A usura fez tábua rasa
Na velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
.
- Mas o menino ainda existe.
Manuel Bandeira

Bundalização

.
No sexo de suas esdrúxulas músicas,
Coube em si, somente o fugaz.
Assim, a humanidade perde sua consciência
E a razão não existe mais.
.
História, sentimentos, e lutas de classes
São tapadas e fantasiadas
No balanço do bumbum e "no movimento é sex"
Constituindo-se assim a alienação corpo-mente,
Tão demente, que o homem se embudece...
Éric Meireles de Andrade

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Na veia

.
Eu vou cantar pra saudade com seu vestido vermelho e a sua boca
Eu vou cantar pra saudade descer na minha cabeça e comandar sua festa, festa.
.
Aquele cheiro som imagem do teu corpo incendeia
E um rio carregado de saudade vem correr na minha veia
Na veia amor, na veia.
É como a luz da lua que atravessa a parede da cadeia
Clareia mais forte que o sol.
.
E Quando a saudade chegar com seu batalhão de agitadores
E tanta bandeira
Vou cantar aquele som da gente
Vou rasgar o teu vestido novo.
Lirinha

Ana e o Mar

.
Veio de manhã molhar os pés na primeira onda
Abriu os braços devagar... e se entregou ao vento
O sol veio avisar... que de noite ele seria a lua,
Pra poder iluminar... Ana, o céu e o mar.
.
Sol e vento, dia de casamento
Vento e sol, luz apagada num farol
Sol e chuva, casamento de viúva
Chuva e sol, casamento de espanhol.
.
Ana aproveitava os carinhos do mundo
Os quatro elementos de tudo
Deitada diante do mar
Que apaixonado entregava as conchas mais belas
Tesouros de barcos e velas
Que o tempo não deixou voltar.
.
Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar.
.
Ana e o mar... mar e Ana
Histórias que nos contam na cama
Antes da gente dormir.
.
Ana e o mar... mar e ana
Todo sopro que apaga uma chama
Reacende o que for pra ficar.
.
Quando Ana entra n'água
O sorriso da ma-drugada
se estende pro resto do mundo
abençoando ondas cada vez mais altas
barcos com suas rotas e as conchas que vem avisar
desse novo amor... Ana e o mar.
Fernando Anitelli

Fim

.
Me sinto perto de escrever poesia morta,
me mato de pensar em sentimentos novos,
me mato de pensar,
me mato.
.
Surpreendentemente esse peito não é suficiente,
a felicidade apenas contente,
com tosca e tamanha aspereza,
nada mais,
a tristeza,
que triste.
.
O amor?
Já senti.
A dor?
Já senti.
A paixão?
Também...
O ópio?
Também...
O vão?
Sinto.
A morte?
...
fim.
Silas Delgado

Calados

.
Momentos de silêncio simples e puro em sua companhia,
olhos nos olhos de janela da alma,
o não-dizer nunca disse tantas coisas como diz ao seu lado,
uma boca fechada nunca chupou tanto,
um corpo nunca servira como manto azul,
o meu bem-querer nunca fôra tão santo.
.
Tua respiração compassa meu sangue,
em nossas lágrimas transbordamos,
choramos pela felicidade plena de "estar"
viver momentos,
viver o momento,
com todos os percalços mundanos ajoelhados diante de nós,
diante da divina grandiosidade de nosso amor,
diante da perfeição,
diante da ausência de dor.
.
Momentos que sinto calma,
a sagrada calma,
poder me deixar pela felicidade,
pelo sopro dos anjos,
me levando a porto seguro,
vila de ranchos.
.
Momentos onde só é dito o verdadeiro:
"Eu te amo".
.
Momentos onde só é dito o que se quer escutar.
Silas Delgado